terça-feira, 13 de março de 2012

Livro 59 - Correndo com Tesouras - Augusten Burroughs




Livro 58 - Correndo com Tesouras - Augusten Burroughs

A capa do livro traz a seguinte frase: "memórias de um adolescente e sua família muito louca".

Augusten Xon Burroughs é o nome adotado por Christopher Robison. Ele é filho de John Robinson, diretor da faculdade de Filosofia da Universidade de Massachusets e alcóolatra, e de Margaret Robinson, escritora e poeta, e também maníaca-depressiva.

Com essa "base", Augusten escreve Correndo com Tesouras. Conta como era viver com a embriaguez do pai, com os surtos da mãe, com a ausência do irmão, e, pós divórcio, como foi conviver somente com a mãe e o seu psiquiatra, no livro chamado de Dr. Finch. Após um período, sua mãe o manda viver com a família pouco ortodoxa do médico, que, segundo Augusten, incluia fazer o que bem entender, comer ração de cachorro, ter uma árvore de Natal e cocos de cachorros no meio da sala o ano inteiro, além de brincadeiras com um aparelho antigo de eletrochoque do Dr. Finch.

Depois de sucessivas crises psicóticas e de assumir sua homossexualidade, sua mãe incumbe Dr. Finch de ser o tutor legal de Augusten, tornando sua estada na casa da família praticamente definitiva. Isso inclusive fez com que ele, que também se assumiu gay, tivesse um relacionamento com um dos "filhos adotivos" do médico - detalh: ele tinha 13 para 14 anos, e o filho, 33. E ainda teve o aval de sua mãe.

Augusten conta que ficou muito próximo de Natalie, a filha mais nova do Dr. Finch, inclusive morando junto com ela, na tentativa dos 2 de estudar, se formar, pois, como tudo na família, não havia regras, e frequentar a escola era algo que poderia ser "quebrado".

Bom. Até ai, apesar de chocante, retratava a vida do autor. Uma autobiografia.

Podemos considerar o livro a primeira parte da história.

A segunda parte da história entra com a verdadeira Natalie sabendo que o antigo amigo lançou um livro e o comprando para ler. Se quem lê sente um soco no estômago, como fala na contracapa do livro, imagina como "Natalie" se sentiu, vendo sua família ser retratada de um jeito, que, segundo ela, não condiz com a realidade. Embora seu pai tenha tido o diploma cassado entre outros detalhes.

"Natalie", que na verdade se chama Thereza, conta que foi aí que começou a humilhação e a vergonha da família Turcotte - os Finch da "ficção".  A família concedeu uma entrevista para a revista Vanity Fair (americana):

http://www.vanityfair.com/culture/features/2007/01/burroughs200701

Isso tudo me lembrou a velha discussão filosófica sobre a VERDADE. Verdade pode ter vários significados.  Para os estudiosos, por exemplo, em antropologia cultural, artes, filosofia, os fatores envolvidos implicam no imaginário, na realidade e na ficção. Óbvio que não há consenso entre filósofos e acadêmicos,  e teorias existem e continuam sendo debatidas sobre o que é a verdade.

Para Nietzsche a verdade é um ponto de vista. Ele não define nem aceita definição da verdade, porque não se pode alcançar uma certeza sobre a definição do oposto da mentira.

Há experiências e vivências, onde cada pessoa envolvida se lembra e destaca um dos aspectos, e nenhum deles forma o "todo".

Acredito que não dá para discutir sobre a verdade da história de Augusten e a verdade da família Turcotte. Há, sim, vivências e pontos de vista. Para "Natalie/Thereza", sua família era daquele jeito, pouco ortodoxa, "normal' de um jeito freak, mas era sua família. Já para Augusten, obcecado com polimento de moedas, organização e seu próprio penteado quando criança, passar por um divórcio problemático dos pais, conviver com os surtos psicóticos da mãe e do abandono do pai, ser colocado em uma família oposta em tudo ao que ele considerava normal e aceitável, e seu relacionamento com um pedófilo, praticamente, faz com que sua biografia seja realmente cínica, mostrando como ele conseguiu sobreviver a um mundo caótico dentro das circunstâncias de sua adolescência.

Encerro com uma frase da Filósofa Hanna Arendt:

"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história".

E foi isso que Augusten fez.


http://www.independent.co.uk/news/people/profiles/augusten-burroughs-writing-saved-my-sanity-434920.html

Para quem quiser, o livro foi transformado em filme: http://www.imdb.com/title/tt0439289/

domingo, 11 de março de 2012

Livro 58 - Idoru - William Gibson


Livro 58 - Idoru - William Gibson

Bom, ontem postei outro livro do mesmo autor, o Neuromancer, que deu origem ao universo Matrix. Neuromancer foi escrito em 1984.

Resumindo um pouco, William Gibson é considerado um dos pais do cyberpunk, movimento este que na literatura mistura ficção científica, elementes de filmes noir e muita, muita tecnologia. O comparam com Raymond Chandler, escritor de livros policiais, que se transformaram em filme, com Humphrey Bogart no papel principal. A diferença que William é o Raymond da era digital.

Idoru é considerado seu melhor trabalho, e foi escrito em 1996. Para quem é fã, é difícil escolher um livro somente. Mas fica a critério de quem se interessar.

Vamos à historia. Chia é uma adolescente de Seattle fã de uma banda chamada Lo/Rez. Inclusive faz parte do fã clube oficial da banda. Há boatos de que Rez, um dos integrantes da banda, decide se casar com uma agente - a Idoru do título, que se chama Rei Toei. Que não passa de um holograma, algo inventado, uma cantora fabricada para fazer sucesso. Intrigadas com esses boatos, Chia é escolhida pelo grupo de Seattle para viajar até Tokio para averiguar essa história.

Laney é o outro personagem principal, um analista de dados, retirando, de dados deixados pelas pessoas no mundo virtual, padrões aparentemente sem sentido, mas cruciais. Após um incidente em seu antigo emprego, em um grupo midiático que constrói e destrói celebridades a seu bel prazer, é contactado para trabalhar para alguém ligado a Rez.

Personagens de "carne e osso" se interligam com personagems virtuais, como os residentes da Cidade Murada, uma cidade mais que virtual, onde pessoas passam mais tempo conectadas do que em suas vidas "reais" - como se houvesse uma inversão: suas vidas "reais" são as vidas "virtuais".

As vidas de Chia e Laney acabam, lógico, interligadas pelo fio do "amor" que une Rez e Rei. Real e virtual. Um relacionamento baseado em sentimento, tecnologia, loucura, causando comoção entre os fãs, repulsa e estranhamento.

Tudo isso entremeado por elementos da máfia e contrabando de nanotecnologia.

Se houve "casamento"? O final do livro responde.....

sábado, 10 de março de 2012

Livro 57 - Neuromancer - William Gibson


Livro 57 - Neuromancer - William Gibson

Para falar sobre esse livro acho melhor fazer por partes. É um livro escrito por um dos pais do cyberpunk, em meados da década de 80, William Gibson, e esse livro deu origem ao filme Matrix.

Cyberpunk é considerado, na literatura, um sub-gênero da ficção científica, utilizando elementos de romances policiais, film noir e pós-modernernismo. Basicamente o foco é a tecnologia, onde os seus personagens tem mais vida online do que off line. Lógico que essa é a definição do termo na literatura, mas é algo que engloba muito mais - música, moda, HQ, filmes, enfim, um estilo de vida.

William Gibson é considerado um "profeta noir" do gênero, e, além de escritor, é também roteirista, como alguns alguns episódios de Arquivo X e do filme Johnny Mnemonic - O Cyborg do Futuro. Ele, Bruce Sterling e John Shirley, são considerados, de certa forma, "crias" de George Orwell.

Neuromancer foi escrito em 1984, e é mais atual do que nunca. Descreve realidades virtuais, informação X poder, inquietações filosóficas e históricas, além de personagens niilistas, violentos e trama com muita ação.

Pós Blade Runner e pré Matrix, é considerado o livro que deu origem ao roteiro do filme, ou, pelo menos, suas idéias principais, como a Matrix (que existe no livro como é mostrada no filme), Zion e seus moradores, aguardando a salvação, junto com inteligências artificiais.

A tradução desse livro foi feita por Alex Antunes, jornalista e escritor, também da vertene cyberpunk (lógico), autor de A Estratégia de Lilith), e seu prefácio do livro resume tudo o que eu gostaria de escrever aqui. Ele faz uma comparação ao personagem Case com Neo, um cowboy do cyberespaço contactado por Molly (Trinity?) a mando de Armitage, um ex-oficial das Forças Especiais, oferencendo uma cura para Case em troca de uma missão, que ninguém sabe ao certo para que ou para quem se está trabalhando, na verdade.

Alex faz uma analogia bem interessante com Matrix, o filme - seria ele uma  homenagem ou simplesmente uma "cópia" de Neuromancer? Apesar de todos esses elementos em comum, há muita diferença, como se Matrix fosse somente um esboço de um roteiro adaptado de Neuromancer. Molly é bem mais blasé e violenta do que Trinity. E Case é mais na dele e não tão, sei lá... indeciso, quanto Neo. Armitage é também muito diferente do "do filme".

É muito complicado essas "homenagens/adaptações". Lendo o prefácio, me lembrei de uma série de desenhos dos anos de ouro da MTV, nos anos 90, Aeon Flux, que virou filme com Charlize Theron no papel principal, em 2005. Mas a personagem do desenho é muito mais filha da puta e descolada do que a personagem do filme - pressão de Hollywood, talvez?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuromancer

sexta-feira, 9 de março de 2012

Livro 56 - Valsando com a Gata - Pam Houston


Livro 56 - Valsando com a Gata - Pam Houston


Confesso que esse é um dos meus livros preferidos. Pam Houston é ganhadora do prêmio literário Western States, pelo livro "Meu Fraco são Cowboys", entre outros prêmios. Pam é colaboradora também de várias revistas e professora na Universidade da Califórnia.

Vamos à história. Lucy O'Rouke é fotógrafa, vive de um lado para o outro, vive com o peso de ter tido uma infância com pais problemáticos. Tudo isso contribui para que Lucy viva na corda bamba e se exponha em aventuras extremas, como um rafting em um canyon, onde sofre um acidente, um quase ataque de um caimã durante uma expedição pela floresta Amazônica e enfrente um furacão enquanto navega com 2 amigos. Além, é claro, de não ter sorte no amor. Todo esse desequilíbrio é claro que afeta toda sua vida, inclusive sua vida familiar e amorosa.

Em um episódio de sua vida, onde as coisas mais uma vez parecem contribuir contra Lucy, em um aeroporto, acontece um encontro místico. Um homem se aproxima, se apresenta como Carlos Castaneda, a chama pelo nome e fala coisas para ela que aparentemente não fazem sentido - no momento.

Esse encontro a ajuda a ir em busca do equilíbrio necessário para sua vida, de saber escolher com quem se relacionar e em que aventuras se meter, até arrumar o que Lucy chama de verdadeiro lar - um rancho no meio das Montanhas Rochosas, herança da avó materna que nunca chegou a conhecer.

Não há final feliz, como finalmente ela se encontrou, está em equilíbrio, e blá blá blá, todo aquele falatório água com açucar de romances. Mas, sim, o livro fala de um processo, de um caminho que a protagonista escolhe para sua vida. E faz com que tenhamos vontade de saber: o que será que ela está fazendo da sua vida por agora?

PS - Sorry, mas só consegui essa foto tosca da capa do livro. Uoh.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Livro 55 - Fashion Marketing - Relação da moda com o mercado - Gloria Kalil


Livro 55 - Fashion Marketing - Relação da moda com o mercado - Gloria Kalil

Gloria Kalil é mais do que a "dona" do site Chic e consultora de etiqueta que aparece no Fantástico. Com uma longa experiência na moda, como empresária nos anos 80, onde trouxe a Fiorucci, marca italiana famosa por seu logo de anjinhos, para o Brasil. Com a falência da marca, na Itália, ela encarou, de 1993 a 1995 a marca Jeigikei. Desde esse ano, investiu na carreira de consultora de moda e negócios, além de seu trabalho como jornalista em várias mídias, inclusive como autora de vários livros de estilo e comportamento.

Porque toda essa introdução para Glorinha, como é chamada? Para mostrar que seu trabalha vai muito além de dizer que tipo de calça é adequada para que tipo de corpo, o que usar num casamento de dia, como se portar numa festa de empresa e por ai vai, esclarecendo as dúvidas do povo.

Com sua larga experiência e com o apoio do Senac, em 2006 ela organizou o seminário Fashion Marketing, para discutir as diretrizes da moda brasileira - qual é sua identidade, moda brasileira brilha mas não vende, a criatividade da moda, e muito mais.

Como ela mesma falou, moda não é sonho. É indústria.

Este livro reune palestras de 3 anos do evento - 2006, 2007 e 2008, onde participantes como Carlos Miele, Karim Rashid, Paulo Borges, Sarah Lerfel, Alexandre Herchcovitch, Ermenegildo Zegna, Tufi Duek, entre outros profissionais da moda, tanto brasileiros quanto estrangeiros se reuniram para discutir essa indústria de moda.

Acho fundamental para todos que querem saber mais sobre a relação moda X mercado, e, para finalizar, deixo as próprias palavras da autora por aqui:

http://chic.ig.com.br/materias/357001-357500/357202/357202_1.html

terça-feira, 6 de março de 2012

Livro 54 - Marina - Carlos Ruiz Zafón


Livro 54 - Marina - Carlos Ruiz Zafón

Gosto de começar falando primeiro do autor, acho que ajuda a entender melhor um pouco de sua obra. Vamos lá. Carlos Ruiz Zafón é espanhol, nascido em 1964 em Barcelona, e praticamente fez da cidade personagem de seus livros.

Em 1993 ganhou o prêmio Ebedé de literatura com seu primeiro romance, O Príncipe da Névoa.

Apesar de Barcelona ser personagem de seus livros, ele atualmente vive em Los Angeles, trabalhando como roteirista de TV, e também como correspondente de alguns jornais espanhóis.

Carlos Ruiz consegue fazer uma história de suspense que nos prende do começo ao fm de Marina.

Tudo começa com Óscar, um garoto interno num colégio, que, num intervalo e outro, tem o hábito de sair do internato e passear pelos bairros próximos, com, em sua maioria, casarões abandonados. Em um desses casarões, ele encontra um gato, e resolve seguir o mesmo. Achando que o casarão é mais um casarão abandonado, ele se surpreende ao chegar perto e ouvir música vinda da casa. Nessa história toda, ele se assusta com a presença do morador e acaba levando um relógio, que estava olhando, quando o morador se aproxima dele.

Após dias de medo e incerteza, Óscar resolve voltar à casa para devolver o relógio ao seu dono, e conhece Marina, a filha de Germán.

A partir daí, os dois se envolvem em uma aventura, que, em princípio, era somente algo ingênuo e sem maiores interesses, com desdobramentos e personagens que os dois nem sonhavam em conhecer e se envolver, transformando toda a história em um suspense mágico que nos prende ao livro, atiçando nossa curiosidade.

Finalizo aqui com uma frase de uma crítica do USA Today:

"O talento visionário de Zafón para contar histórias é um gênero literário em si."

segunda-feira, 5 de março de 2012

Livro 53 - Fazendo as Malas - Danuza Leão


Livro 53 - Fazendo as Malas - Danuza Leão

Viajar - deslocamento de uma pessoa, por motivo específico, entre dois pontos determinados (origem e destino), utilizando, para isso, um ou mais modos de transporte. Utilizada para trabalho ou para visitar parentes, ou por diversão (turismo), e também as guerras, que faziam com que pessoas se deslocassem com objetivos definidos - defesa de território, conquistas de terras e até mesmo comércio.

Através da Revolução Industrial, as viagens de turismo aumentaram de número, devido à nova tecnologia. Em 1840 Thomas Cook promovo o primeiro "pacote turistíco", não fazendo muito sucesso, mas abrindo portas para um novo negócio - as agências de turismo.

Bom, logo após essa breve "introdução", vamos à autora, Danuza Leão. Para mim, Danuza é um mito, amo de paixão, além de ter (momento estou me sentindo) em comum com ela a paixão por táxi. Nada mais prático - quer ir embora, chama um táxi e pronto. Ela fala que não faz cruzeiro por causa disso - e se der vontade de ir embora?

Danuza tem experiência em viagens, já morou em Paris, trabalhando como modelo, e pegou o gosto por colocar o pé na estrada.

Neste livro, o que seria uma simples insônia virou roteiro de viagem. Sevilha.. e porque não Lisboa, que é tão perto? Ah, já que vou para Lisboa, para Paris é um pulo... E assim se organiza sua viagem à Europa.

A partir desse mote, Danuza vai contando suas peripécias, como seu hábito de levar "poucas coisas" - mas o seu conceito de pouco, confessa ela, é exagerado, e também dicas de passeios, hotéis e restaurantes de cada lugar - nada óbvios, diga-se de passagem.

E lá se vai Danuza, com 3 malas cheias, passeando pela Europa, onde se sentiu uma própria espanhola em Sevilha, e em casa em Paris, onde o dono do café da rua do hotel onde sempre se hospeda a recebe com um "já de volta, madame! Seja bem vinda". E corre o mundo atrás de novas emoções. Afinal, como ela cita:

"Voyager c'est prende un chemin sans jamais savoir où on va" - viajar é otmar um caminho sem saber aonde ele vai nos levar.




http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo

domingo, 4 de março de 2012

Livro 52 - Cultura e Dança em Mato Grosso - Beleni Salete Grando



Livro 52 - Cultura e Dança em Mato Grosso - Beleni Salete Grando

Beleni, que tive o prazer de conhecer, juntamente com seu marido, o artista plástico Claudyo Casares, é professora de Educação Física e doutora em Educação. Coordena o COEDUC - Núcleo de Estudos sobre o Corpo, Educação e Cultura, na Universidade de Mato Grosso - UNEMAT. Lá, desenvolve suas pesquisas sobre a cultura popular e o folclore mato-grossense, incorporando-as à práticas pedagógicas.

Vamos lá. Cultura popular é toda manifestação manifestação cultural (dança,  música, festas, literatura, folclore, arte, etc.) em que o povo produz e participa de forma ativa, sendo resultado de uma fusão entre pessoas de várias regiões, e sendo transmitidas de geração em geração.

Nesse livro, Beleni reune trabalhos de alunos do curso de Pedagogia da Unemat - Cáceres, a partir de pesquisas realizadas na disciplina Educação Física II.

Na cultura popular, a música e a dança possuem um papel importante. Através desta disciplina, os acadêmicos estudaram danças e festas típicas da região de Cáceres, valorizando não só o aprendizado, mas também a vivência dos mesmos, em contato com a realidade de seu município e comunidade.

As cidades que foram objeto de estudo são Cáceres, Lambari d'Oeste, Glória d'Oeste, Porto Esperidião, Rio Branco e Araputanga, cada um com suas danças e festas regionais, como Siriri, Cururu, Folia de Reias, Catira, Curussé, Rasqueado, São Gonçalo e Dança Cabocla.

Percebe-se claramente a influência da colonização paulista e também da influência externas - como dos indios Bororo e dos Chiquititos bolivianos.

Esse livro não é só recomendado para quem quer estudar e conhecer um pouco mais sobre Mato Grosso  e região, mas também para reconhecer a influência e a importância das manifestações culturais para a construção de nossa identidades.

Livro 51 - La Llorona - Marcela Serrano


Livro 51 - La Llorona - Marcela Serrano

Para mim, Marcela faz parte da alcatéia de Clarissa Pinkola Estés (autora de Mulheres que Correm com os Lobos). Clarissa fala dos mitos e arquéticos da "mulher selvagem".

Vamos conhecer um pouco da autora:

Marcela Serrano é chilena, nascida em 1951. Estudou Belas Artes na Universidade Católica do Chile, trabalhando no ambiente acadêmico e artístico, não só pela faculdade que cursou, mas também por causa de seus pais - o ensaista Horacio Serrano e a novelista Elisa Pérez Walker, que escrevia sob o pseudônimo de Elisa Serrana. Trabalhava com vários tipos de artes visuais. Com o golpe no Chile, se exilou em Roma, com seu primeiro marido.

Marcela se considera uma escritora tardia, pois começou a escrever aos 38 anos, sendo publicada aos 40.

La llorona é uma das mais famosas lendas mexicanas, embora haja relatos em toda a América latina sobre o mesmo "tema". No Brasil, é conhecida como a "mulher de branco". Na Venezuela, é chamada de "la sayona", e no México, como já dito, de "la llorona", sendo esta a versão mais antiga. É apontada como a deusa Cihuacóati, que, durante a conquista do México, gritava: "meus filhos! Onde os levarei, para não perdê-los?". No folclore hispânico, é considerada a alma penada de uma mulher que afogou seus filhos.

A protagonista, conhecida somente por "ela", teve seu bebê em um hospital, mas deixaram a criança internada. A criança morre, sem corpo para enterrar, sem nada. Simplesmente com a desculpa que não havia ninguém lá para reclamar o corpo, o hospital alega que teve que cremar o corpo. O que realmente aconteceu? A chorona é assassina ou salvadora?

Através de teias invisíveis, ela vai se unindo a outras mulheres, algumas na mesma situação, outras, como a advogada Olívia e a enfermeira Elvira, para ajudá-las a reescrever suas historias - talvez com final feliz, outras não, mas pelo menos com um desfecho.

Deixo um trecho de uma crítica de Arturo Pérez-Reverte, novelista e jornalista espanhol:

"Seus romances são sábios e lucidamente femininos. Ler Marcela Serrano é como entrar nos olhos de todas as mulheres do mundo."

Livro 50 - Apenas uma Mulher - D. H. Lawrence


Livro 50 - Apenas uma Mulher - D. H. Lawrence

Bom, apesar do atraso, por problemas de conexão de internet, vamos falar do livro 50, de 01/03 - Apenas uma Mulher.

Para começo, vamos ver a biografia do autor:

David Herber Lawrence, inglês, nascido em 1885, pertence à escola Modernista - que convergia literatura, artes plásticas, designe e inclusive a organização social. Essa escola queria "apagar" tudo o que era antigo, e substituir pelo novo, argumentando que a nova realidade do século XX era eminente e permanente, por issopessoas deveriam se adaptar a suas visões de mundo a fim de aceitar que o que era novo era também bom e belo.

Devido à isso, sua obra foi considerada avançada, abordando temas como sexualidade e as relações humanas.

Apesar de várias críticas a seus livros, sua obra é importante porque retrata bem uma era influenciada por Freud e por Nietzsche.

Seu livro mais famoso é O Amante de Lady Chatterley, publicado em 1928. Para uma crítica mais profunda: http://resumos.netsaber.com.br/ver_resumo_c_46385.html.

Bom, conhecendo um pouco o autor, a Escola onde pertencia e o teor principal de sua obra, vemos que Apenas uma Mulher entra bem nesse histórico de temas como sexualidade e relações humanas. As mulheres de Lawrence são decisivas para a existência dos homens, de forma positiva ou não.

Banford e March são duas mulheres que vivem em uma propriedade rural no interior da Inglaterra. Juntas, trabalham e tentam sobreviver do lucro da granja, isoladas e independentes de homens. Uma bastava à outra. O autor não explicita uma relação homossexual entre elas, mas nem precisa. Suas personalidades se completavam, sendo que a natureza nervosa de Banford encontrava segurança na força calma de March.

Em um inverno, um jovem soldado aparece de repente na proprieda, alegando que morara ali anos antes com seus avô. Banford o recebeu como a um irmão mais novo. March, cautelosa, mas inquieta com a presença do soldado. Ele percebe isso em March e resolve que quer se casar com ela, e fazê-la "apenas sua mulher" - "...Queria que ela se rendesse a ele, e adormecesse seu espírito independente. Queria tirar dela todo esforço, tudo que parecia sua razão de ser. Queria fazê-la submeter-se, entregar-se, dispensar cegamente toda a sua parte consciente. Queria retirar dela o consciente, e fazer dela apenas a sua mulher. Apenas a sua mulher." (página 102)

Tirem suas próprias conclusões... vou me abster de fazer polêmicas, mais do que a obra do autor já causou e causa.

Esse livro foi escrito em 1923, com o título original de The Fox, e lançado em filme pela Warner Brothers em 1967. Para quem quiser mais informações sobre o filme, deixo o link do Imdb:
http://www.imdb.com/title/tt0062990/

quinta-feira, 1 de março de 2012

Livro 49 - A Via Crucis do Corpo - Clarice Lispector


Livro 49 - A Via Crucis do Corpo - Clarice Lispector

Sou suspeita de falar de Clarice, porque sou mega fã, mas vamos lá. Esse livro foi lançado em 1974, após um telefonema do poeta Álvares Pacheco, na época editor de Clarice na editora Artenova. Em princípio Clarice recusou fazer 3 contos por encomenda, dizendo que não sabia escrever assim. Mas durante o próprio telefonema, sentiu a inspiração crescendo - e no outro dia 3 contos já estavam prontos: Mis Algrave, O Corpo e Via Crucis. Acabou fazendo mais alguns, e lançando este livro, onde o corpo é o protagonista, em todas as suas formas.

Clarice confessa, na "Explicação", que se surpreendeu com esse trabalha, e fala que, se há indecência nos contos, a culpa não é dela. Tanto ficou consternada que não queria nem que seus filhos lessem seu trabalho, por vergonha. Queria lançar os contos com pseudônimo mas seu editor disse que se ela não tinha liberdade de escrever o que quiser, o que seria de seu trabalho? Clarice acatou.

Acho que, de longe, esse é um dos seus melhores trabalhos. Clarice nua e crua, fazendo o corpo protagonista de suas histórias, mesmo quando disseram que esse trabalho não era literatura, era lixo: "concordo. Mas há hora para tudo. Há também a hora do lixo."

Como fala a professora Ana Maria Chiara, na orelha do livro: Aceite o desafio e enfrente o desconcerto, caro leitor. A literatura de Clarice tem força."